segunda-feira, 25 de abril de 2016

Capítulo 3 - Como fazer alguém gostar de ti?



19h30 era a hora que o relógio ainda marcava na secretária onde ele estava sentado no escritório. Hoje o dia estava a ser longo, principalmente porque ela ainda estava lá. E ele apenas a queria ver mais uma vez. Na cabeça dele, hoje era o dia. Hoje era o dia em que ele se levantaria da cadeira e iria a correr para o elevador para descer com ela. Um momento mais intimo em que finalmente poderia apresentar-se e talvez convidá-la para almoçar… Estes pensamentos apenas o deixavam ainda mais ansioso!
Artur levanta a cabeça inclinada sobre o seu teclado e olha diretamente para a sala onde ela ainda está reunida. Ele consegue vê-la no interior da sala, gesticulando freneticamente, liderando a reunião com solidez. A sala tem paredes de vidro, e atrás dela está uma grande televisão onde são projetados os conteúdos que ela apresenta a uma equipa de seis executivos da empresa onde ambos trabalham.
- Céus como ela é linda! – murmura baixinho Artur – Devo estar completamente apaixonado – diz, abanando a cabeça em sinal de conivência.
A escassos 10 metros de si, na outra ponta da sala, encontra-se Inês, a mais jovem executiva da firma, chegada à pouco tempo à empresa, mas por quem metade dos homens da empresa já suspiravam de amores. Inês era uma jovem mulher extremamente bem sucedida, com uma fama de trabalho árduo, e extremamente elegante, uma combinação explosiva em ambientes de empresas lideradas tipicamente por homens. Hoje, ela estava particularmente atraente. Tinha um vestido azulão magnífico, com um grande decote que proporcionava a qualquer um a tentação imediata de não conseguir parar de olhar para o seu peito. O vestido acima do joelho permitia também a qualquer homem maravilhar-se com as suas longas e esguias pernas, suculentas de tão torneadas e perfeitas que eram. O seu corpo apresentava curvas que deixavam qualquer homem num estado faminto, desejando como e quando poderiam satisfazer-se a si e àquela lindíssima mulher. Inês tinha uma pele suave e branca, os seus olhos verdes claros eram de uma ternura que deixava qualquer homem apaixonado, e hoje estava com o seu longo cabelo castanho claro apanhado, numa imagem perfeita e completa que permitia a qualquer homem fantasiar o que quer que fosse com aquela mulher.
A reunião parecia estar a terminar. Uma salva de palmas efusiva de todos os homens dentro da sala pareciam ser o colmatar de uma apresentação de sucesso ou o sinal de que aquela mulher havia conseguido, fosse pela via do trabalho fosse pela sua elegância, conquistar definitivamente a plateia. A porta da sala abre-se e os homens começam a sair.
- Grande apresentação! – retorquiu um deles.
- Eu prefiro dizer, grande contratação! – afirmou outro – É deste tipo de pessoas que esta empresa precisa se pretende continuar a crescer.
Artur olha novamente para dentro da sala. E lá está Inês. Nos seus pensamentos a imagem de a ter para si, é algo que definitivamente chegou para ficar. Ele observa-a fixamente. O seu coração está acelerado, e as palmas das suas mãos estão suadas. Inês é dona de um mundo que a grande maioria dos homens só alcança em sonhos. Ele vê-a arrumar os papéis e desligar a televisão. Coloca os papéis em cima do portátil enquanto troca impressões ainda com alguns dos presentes na sala. Ela sorri enquanto responde à maioria das questões que lhe são endereçadas. E que sorriso! Um sorriso aberto e cheio de energia. Tudo é perfeito nela. O sorriso, os olhos, os óculos de aros negros que combinam com os sapatos pretos de salto alto, o vestido azulão, e todo aquele corpo torneado, tonificado, trabalhado em cada centímetro para se revelar ultra sensual…
- Sim, definitivamente estou apaixonado – afirma Artur, baixinho, sentindo o coração palpitar.
Inês sai da sala segurando o seu computador e os papéis contra o peito. Sai acompanhada por mais um individuo, um dos diretores da empresa, com os seus quase 50 anos. Da conversa, ele deve estar a dirigir-lhe rasgados elogios porque ela não para de sorrir e ele, apesar de no topo da sua confiança olhar fixamente para ela, ela mal consegue olhar-lhe nos olhos, continuando a apertar o computador contra o seu peito e olhando ora na direção do chão, ora na direção da porta de saída da empresa.
- Inês, volto a referir, e já pertenço a esta empresa há muitos anos, esta foi uma apresentação arrasadora. – afirmou olhando fixamente para o rosto tímido de Inês, que não escondia a satisfação de tamanhas palavras.
- Obrigado Dr. – responde Inês – Nem imagina o quanto fico contente por todos me estarem a receber tão bem nesta empresa.
- Inês, você pode ir muito longe nesta casa. Você é muito talentosa, e de certeza que o futuro é seu, se for inteligente e souber convergir e trabalhar para atingir os objetivos da empresa.
- Obrigado. Fico muito contente com as suas palavras.
- Não tem de agradecer Inês. Se o digo é porque me preocupo em retirar o melhor que os nossos quadros podem oferecer. E por falar em oferecer, posso oferecer-lhe hoje o jantar em sinal de gratidão?
Inês cora imediatamente. Ouvindo aquelas palavras, o seu corpo contrai instantaneamente, ela sorri timidamente enquanto aperta ainda mais o seu computador contra o peito, num sinal de que se sentira desconfortável com a abordagem.
- Agradeço-lhe profundamente, mas hoje tenho mesmo de sair e ir para casa. Tenho uma pessoa à minha espera – afirmou timidamente Inês.
- Espero então que possamos jantar outro dia qualquer Inês. Tenho grandes planos para si.
- Sim, com certeza que um dia destes jantaremos.
- Então até amanhã Inês.
- Até amanhã Dr. – diz Inês ao voltar costas, enquanto suspira de alívio por se ter libertado de mais uma tentativa para a levarem a jantar fora.
Inês estava habituada a ser convidada pelos homens. Os homens frequentemente insistiam com ela, colocando todo o género de convites em cima da mesa. Almoços, jantares, fins-de-semana, férias, viagens, prendas, cinemas, teatros, saídas à noite, tudo. Inês tinha uma coleção infindável de convites de homens para sair com quem quisesse quando quisesse. Ela tinha perfeita noção que atraia homens muito facilmente, talvez pelo seu corpo, ou talvez pelo seu sorriso rasgado como muitos lhe diziam que ela tinha. O sorriso perfeito. O olhar mais doce. A pele suave. Os elogios eram sempre mais do mesmo. Ela já não ligava à maior parte dos elogios. E o tempo de sair com homens também já era coisa do passado. Ela sabia que os homens, principalmente os mais velhos, apenas querem uma coisa: sexo. Não estão disponíveis para amar. Não estão disponíveis para sonhar. Não estão sequer disponíveis para construir uma família. Da sua experiência com os homens, ela sabe que todos farão tudo e mais alguma coisa para no final da noite ou da semana terem tido o prazer de fazerem amor com ela. De colocarem as mãos no seu corpo. E de lhe fazerem promessas que depois não cumpririam. Inês já não estava na fase de descobrir o que é o amor. Inês estava na fase em que já não acreditava existirem homens que realmente quisessem o que ela também queria: amor genuíno. Partilha. Amizade. Como Inês havia constatado nos seus avós. Pessoas que pudessem dedicar a sua vida à outra pessoa. E que amassem genuinamente. Lutando diariamente para alcançar o melhor em conjunto. Inês não acreditava nos homens de hoje. Já havia sido magoada inúmeras vezes. E agora sentia-se acima de tudo incompreendida quando os homens lhe perguntavam o porquê de recusar tantos convites. Ela estava numa fase nova da sua vida. Um ano antes não era assim. E queria começar de novo. A mudança para o novo emprego estava a fazer-lhe bem, e não podia voltar a envolver-se com ninguém do trabalho.
Artur fixava-a intensamente. Era momento de desligar o computador, e apressar-se para a porta de saída. Inês já estava a colocar a sua mala ao ombro e a preparar-se para se ir embora. Era agora. Quase um mês depois de Inês ter chegado a este escritório, seria esta a primeira vez que Artur teria a coragem de falar com ela. O plano estava feito. E bastava entrar dentro do elevador com ela.
Inês começou a andar em direção à porta de saída, e Artur ainda estava a arrumar as suas coisas. Inês abre a porta e entra no corredor de acesso aos elevadores. Artur rapidamente abre a sua mochila, atira cadernos, canetas, o telemóvel para o seu interior, coloca a mochila ao ombro e dispara em direção à saída. Inês já dentro do elevador ouve um grito.
- Não deixe o elevador descer sem mim! – grita Artur, ofegante pela corrida final até ao elevador, mas também excitado pela adrenalina que lhe conquista todo o corpo.
Inês trava o fecho das portas apenas com o levantar da sua mão e Artur chegando à porta do elevador, sorri timidamente e agradece.
- Obrigado – responde. Não queria perder mesmo este elevador.
- Não tem de quê. – afirma Inês. Eu ouvi-o e percebi que devia estar com pressa.
- Sim, estou com alguma – diz Artur enquanto entra no elevador segurando a mochila, e colocando-se ao lado de Inês.
Artur era um homem alto, também com 30 e poucos anos. Moreno, com barba aparada, corpo também tonificado. O tipo de homem que fisicamente atraía grande parte das mulheres. Inês já havia reparado nele na empresa. Era o tipo que evitava falar com ela mas que já o tinha apanhado a olhar fixamente para ela várias vezes, embora cada vez que ela olhasse para ele, ele desviasse o olhar. As suas colegas já lhe tinham comentado que talvez ele gostasse dela.
- Está atrasado para algum evento? - perguntou Inês.
- Hummmm… Nem sei bem, para lhe ser sincero. – respondeu Artur visivelmente atrapalhado e balbuciando as palavras visto estar dominado pela ansiedade do momento.
- Ahah – riu Inês – então não sabe para onde vai?
- Desculpe. Não sei porquê mas estou super nervoso. E quando fico nervoso fico atrapalhado e não sei que dizer!
- Mas está nervoso porquê? Sente-se bem? – pergunta de forma maliciosa Inês, que se começava a divertir com a situação, já imaginando o porquê daquele homem se sentir naquele estado.
- Estou nervoso… porque… bem… acho que estou atrapalhado por estar aqui consigo – diz Artur completamente corado e quase a morrer de vergonha por a situação lhe estar a fugir completamente ao controlo e não ser nada, mas nada do que tinha planeado.
- Ahaha! – exclama novamente Inês – uma coisa é certa! A primeira vez que neste final de tarde estou a rir de forma sincera é consigo.
- Bem… não sei se isso é bom ou se é mau!
- Qual o seu nome?  - pergunta Inês.
- Artur – responde, afastando com a mão as gotas de suor que lhe caem na testa com situação tão incómoda para si.
- Você é engraçado Artur! Eu sou a Inês. Gosto em conhecê-lo! – afirma Inês estendendo-lhe a mão para que ele respondesse cumprimentando-a.
- Não lhe vou dizer que o gosto é meu… mas obrigado por estar a ser verdadeiramente simpática – responde Artur, agarrando suavemente na mão de Inês e cumprimentando-a.
- Eu já tinha reparado em si na empresa – diz Inês.
- Hummm, ai sim?
- Sim. Já reparei que o Artur olha muitas vezes para mim – acabando de dizer isso, o sorriso de Inês abre-se instantaneamente.
O coração de Artur dispara imediatamente. Como se de um sinal de alerta se tratasse. Que se estaria a passar naquele elevador? Inês liderava o diálogo e acabava de disparar uma pergunta onde mostrava claramente que sabia que Artur olhava para ela, e que com isso sabia também que Artur provavelmente gostava dela. Mas será que Inês estaria a mostrar que estava interessada em si?
- Inês, é difícil a qualquer homem nesta empresa, ou noutro lugar qualquer, não reparar em si. Não acha?
- Ahahaha! Estou a ficar corada Artur! Tinha-o como um homem tímido! E afinal até é capaz de dizer aquilo que sente.
- Fui sincero consigo. Disse que estava atrapalhado, e o meu coração ainda está aos pulos por estar neste elevador apenas fechado consigo.
- Não é ocasião para tanto. Este é apenas o nosso primeiro encontro – diz Inês voltando a abrir o seu sorriso.
E aquele sorriso arrebata Artur. Ele está completamente apaixonado e sente o calor e o palpitar do seu coração. Nunca, na sua vida, se sentira tão atraído por uma mulher como desta vez. A sua paixão fora instantânea assim que vira Inês entrar no primeiro dia naquele escritório. Ele tinha pouca experiência com mulheres. Sempre fora um homem mais dedicado ao trabalho que aos amores. Tivera uma namorada durante muitos anos e quando ela o deixou, ficou completamente destroçado. Artur era um homem tímido e pouco confiante junto das mulheres. Não estava rotinado em abordá-las. Não sabia como falar com elas nestas fases iniciais de conquista. Acima de tudo, Artur achava que todas as mulheres, no fim, o iriam deixar tal como a sua primeira namorada o havia feito. Dava-lhes pouca confiança, e só conseguia envolver-se com mulheres quando eram estas a tomar a iniciativa. E mesmo que daí resultasse algum envolvimento, era sempre por pouco tempo. Mas no caso de Inês, Artur decidira investir. Já a observava há quatro semanas, e algo lhe dizia que ela valia o esforço. Que esta seria diferente. E ali estavam os dois. No elevador, finalmente a conversarem. Até que o elevador chega ao seu destino.
- Bem, parece-me que chegámos. – suspira Artur.
- Sente-se aliviado?
- Porque pergunta Inês?
- Porque agora já pode respirar novamente. Não precisa de continuar atrapalhado com a minha presença.
- Inês peço desculpa – diz Artur já segurando a porta do elevador, deixando Inês passar à sua frente. – Não estou habituado a falar com mulheres.
- Não está?  - pergunta Inês abrindo os olhos em direção a Artur, visivelmente curiosa ou mesmo surpreendida com a afirmação aparentemente honesta do seu colega.
- Não Inês. – diz Artur coçando a nuca – Apenas tive uma namorada, e durante muitos anos, mas há três anos que estou sozinho. Acho que não tenho aquele toque que as mulheres gostam e desculpe se a incomodei no elevador.
- Artur… nem sei que lhe dizer – diz Inês agora incomodada, por perceber que Artur estava triste ou ferido com a honestidade que agora partilhava com ela.
- Não diga nada Inês – diz Artur esboçando um sorriso falso. – só lamento se de facto a incomodei no elevador. Não devia ter dito aquilo assim que entrei.
- Artur, ok, já percebi que vai insistir nesse discurso. Fazemos assim: amanhã quer jantar comigo e compensar a sua honestidade de hoje?
- Como assim? Está a falar a sério? – pergunta Artur com o rosto completamente iluminado talvez suportado pela alegria do convite inesperado.
- Estou Artur. Acho que você é um tipo engraçado, pelo menos foi sincero. Hoje não posso jantar, mas amanhã gostava que me fizesse companhia. – insiste Inês - Se quiser claro.
- Claro Inês. Com muito gosto!
- Então até amanhã! – diz Inês, colocando a mão no peito de Artur e despedindo-se com um beijo junto ao maxilar inferior de Artur. - Amanhã falamos de manhã no escritório e combinamos. Talvez possamos tomar o pequeno-almoço.
- Ok Inês… - diz Artur visivelmente nervoso e aparentemente incrédulo com tamanho convite, sentindo que estava à beira de ganhar o jackpot de uma lotaria qualquer.
Inês vira-se na direção da porta do edifício deixando Artur para trás e começa a caminhar. Que visão absolutamente magnífica! Inês não parecia que andava, parecia sim que deslizava no ar, como se fosse uma entidade celeste, suportada pelas pernas mais elegantes do mundo. A imagem de sensualidade transbordava por todos os centímetros quadrados da sua pele. E uma das mulheres mais perfeitas do planeta acabara de deitar abaixo o mundo de Artur. Iriam jantar no dia seguinte! Artur nem acreditava. Está imensamente contente e quer celebrar. Pega no seu telefone. Ele sabe a quem ligar. Agora quer ligar ao seu melhor amigo Francisco. Talvez uma cerveja ao jantar seja o momento ideal para partilhar o grande acontecimento deste dia!

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