19h30 era a hora que o relógio
ainda marcava na secretária onde ele estava sentado no escritório. Hoje o dia
estava a ser longo, principalmente porque ela ainda estava lá. E ele apenas a
queria ver mais uma vez. Na cabeça dele, hoje era o dia. Hoje era o dia em que
ele se levantaria da cadeira e iria a correr para o elevador para descer com
ela. Um momento mais intimo em que finalmente poderia apresentar-se e talvez
convidá-la para almoçar… Estes pensamentos apenas o deixavam ainda mais
ansioso!
Artur levanta a cabeça inclinada
sobre o seu teclado e olha diretamente para a sala onde ela ainda está reunida.
Ele consegue vê-la no interior da sala, gesticulando freneticamente, liderando
a reunião com solidez. A sala tem paredes de vidro, e atrás dela está uma
grande televisão onde são projetados os conteúdos que ela apresenta a uma
equipa de seis executivos da empresa onde ambos trabalham.
- Céus como ela é linda! –
murmura baixinho Artur – Devo estar completamente apaixonado – diz, abanando a
cabeça em sinal de conivência.
A escassos 10 metros de si, na
outra ponta da sala, encontra-se Inês, a mais jovem executiva da firma, chegada
à pouco tempo à empresa, mas por quem metade dos homens da empresa já
suspiravam de amores. Inês era uma jovem mulher extremamente bem sucedida, com
uma fama de trabalho árduo, e extremamente elegante, uma combinação explosiva
em ambientes de empresas lideradas tipicamente por homens. Hoje, ela estava
particularmente atraente. Tinha um vestido azulão magnífico, com um grande
decote que proporcionava a qualquer um a tentação imediata de não conseguir
parar de olhar para o seu peito. O vestido acima do joelho permitia também a
qualquer homem maravilhar-se com as suas longas e esguias pernas, suculentas de
tão torneadas e perfeitas que eram. O seu corpo apresentava curvas que deixavam
qualquer homem num estado faminto, desejando como e quando poderiam
satisfazer-se a si e àquela lindíssima mulher. Inês tinha uma pele suave e
branca, os seus olhos verdes claros eram de uma ternura que deixava qualquer
homem apaixonado, e hoje estava com o seu longo cabelo castanho claro apanhado,
numa imagem perfeita e completa que permitia a qualquer homem fantasiar o que
quer que fosse com aquela mulher.
A reunião parecia estar a
terminar. Uma salva de palmas efusiva de todos os homens dentro da sala
pareciam ser o colmatar de uma apresentação de sucesso ou o sinal de que aquela
mulher havia conseguido, fosse pela via do trabalho fosse pela sua elegância,
conquistar definitivamente a plateia. A porta da sala abre-se e os homens
começam a sair.
- Grande apresentação! –
retorquiu um deles.
- Eu prefiro dizer, grande
contratação! – afirmou outro – É deste tipo de pessoas que esta empresa precisa
se pretende continuar a crescer.
Artur olha novamente para dentro
da sala. E lá está Inês. Nos seus pensamentos a imagem de a ter para si, é algo
que definitivamente chegou para ficar. Ele observa-a fixamente. O seu coração
está acelerado, e as palmas das suas mãos estão suadas. Inês é dona de um mundo
que a grande maioria dos homens só alcança em sonhos. Ele vê-a arrumar os
papéis e desligar a televisão. Coloca os papéis em cima do portátil enquanto
troca impressões ainda com alguns dos presentes na sala. Ela sorri enquanto
responde à maioria das questões que lhe são endereçadas. E que sorriso! Um
sorriso aberto e cheio de energia. Tudo é perfeito nela. O sorriso, os olhos, os
óculos de aros negros que combinam com os sapatos pretos de salto alto, o
vestido azulão, e todo aquele corpo torneado, tonificado, trabalhado em cada
centímetro para se revelar ultra sensual…
- Sim, definitivamente estou
apaixonado – afirma Artur, baixinho, sentindo o coração palpitar.
Inês sai da sala segurando o seu
computador e os papéis contra o peito. Sai acompanhada por mais um individuo,
um dos diretores da empresa, com os seus quase 50 anos. Da conversa, ele deve
estar a dirigir-lhe rasgados elogios porque ela não para de sorrir e ele,
apesar de no topo da sua confiança olhar fixamente para ela, ela mal consegue
olhar-lhe nos olhos, continuando a apertar o computador contra o seu peito e
olhando ora na direção do chão, ora na direção da porta de saída da empresa.
- Inês, volto a referir, e já
pertenço a esta empresa há muitos anos, esta foi uma apresentação arrasadora. –
afirmou olhando fixamente para o rosto tímido de Inês, que não escondia a
satisfação de tamanhas palavras.
- Obrigado Dr. – responde Inês –
Nem imagina o quanto fico contente por todos me estarem a receber tão bem nesta
empresa.
- Inês, você pode ir muito longe
nesta casa. Você é muito talentosa, e de certeza que o futuro é seu, se for
inteligente e souber convergir e trabalhar para atingir os objetivos da
empresa.
- Obrigado. Fico muito contente
com as suas palavras.
- Não tem de agradecer Inês. Se o
digo é porque me preocupo em retirar o melhor que os nossos quadros podem
oferecer. E por falar em oferecer, posso oferecer-lhe hoje o jantar em sinal de
gratidão?
Inês cora imediatamente. Ouvindo
aquelas palavras, o seu corpo contrai instantaneamente, ela sorri timidamente
enquanto aperta ainda mais o seu computador contra o peito, num sinal de que se
sentira desconfortável com a abordagem.
- Agradeço-lhe profundamente, mas
hoje tenho mesmo de sair e ir para casa. Tenho uma pessoa à minha espera –
afirmou timidamente Inês.
- Espero então que possamos
jantar outro dia qualquer Inês. Tenho grandes planos para si.
- Sim, com certeza que um dia
destes jantaremos.
- Então até amanhã Inês.
- Até amanhã Dr. – diz Inês ao
voltar costas, enquanto suspira de alívio por se ter libertado de mais uma
tentativa para a levarem a jantar fora.
Inês estava habituada a ser
convidada pelos homens. Os homens frequentemente insistiam com ela, colocando
todo o género de convites em cima da mesa. Almoços, jantares, fins-de-semana,
férias, viagens, prendas, cinemas, teatros, saídas à noite, tudo. Inês tinha
uma coleção infindável de convites de homens para sair com quem quisesse quando
quisesse. Ela tinha perfeita noção que atraia homens muito facilmente, talvez
pelo seu corpo, ou talvez pelo seu sorriso rasgado como muitos lhe diziam que
ela tinha. O sorriso perfeito. O olhar mais doce. A pele suave. Os elogios eram
sempre mais do mesmo. Ela já não ligava à maior parte dos elogios. E o tempo de
sair com homens também já era coisa do passado. Ela sabia que os homens,
principalmente os mais velhos, apenas querem uma coisa: sexo. Não estão
disponíveis para amar. Não estão disponíveis para sonhar. Não estão sequer
disponíveis para construir uma família. Da sua experiência com os homens, ela
sabe que todos farão tudo e mais alguma coisa para no final da noite ou da
semana terem tido o prazer de fazerem amor com ela. De colocarem as mãos no seu
corpo. E de lhe fazerem promessas que depois não cumpririam. Inês já não estava
na fase de descobrir o que é o amor. Inês estava na fase em que já não
acreditava existirem homens que realmente quisessem o que ela também queria:
amor genuíno. Partilha. Amizade. Como Inês havia constatado nos seus avós.
Pessoas que pudessem dedicar a sua vida à outra pessoa. E que amassem
genuinamente. Lutando diariamente para alcançar o melhor em conjunto. Inês não
acreditava nos homens de hoje. Já havia sido magoada inúmeras vezes. E agora
sentia-se acima de tudo incompreendida quando os homens lhe perguntavam o
porquê de recusar tantos convites. Ela estava numa fase nova da sua vida. Um
ano antes não era assim. E queria começar de novo. A mudança para o novo
emprego estava a fazer-lhe bem, e não podia voltar a envolver-se com ninguém do
trabalho.
Artur fixava-a intensamente. Era
momento de desligar o computador, e apressar-se para a porta de saída. Inês já
estava a colocar a sua mala ao ombro e a preparar-se para se ir embora. Era
agora. Quase um mês depois de Inês ter chegado a este escritório, seria esta a
primeira vez que Artur teria a coragem de falar com ela. O plano estava feito.
E bastava entrar dentro do elevador com ela.
Inês começou a andar em direção à
porta de saída, e Artur ainda estava a arrumar as suas coisas. Inês abre a
porta e entra no corredor de acesso aos elevadores. Artur rapidamente abre a
sua mochila, atira cadernos, canetas, o telemóvel para o seu interior, coloca a
mochila ao ombro e dispara em direção à saída. Inês já dentro do elevador ouve
um grito.
- Não deixe o elevador descer sem
mim! – grita Artur, ofegante pela corrida final até ao elevador, mas também
excitado pela adrenalina que lhe conquista todo o corpo.
Inês trava o fecho das portas
apenas com o levantar da sua mão e Artur chegando à porta do elevador, sorri
timidamente e agradece.
- Obrigado – responde. Não queria
perder mesmo este elevador.
- Não tem de quê. – afirma Inês.
Eu ouvi-o e percebi que devia estar com pressa.
- Sim, estou com alguma – diz
Artur enquanto entra no elevador segurando a mochila, e colocando-se ao lado de
Inês.
Artur era um homem alto, também
com 30 e poucos anos. Moreno, com barba aparada, corpo também tonificado. O
tipo de homem que fisicamente atraía grande parte das mulheres. Inês já havia
reparado nele na empresa. Era o tipo que evitava falar com ela mas que já o
tinha apanhado a olhar fixamente para ela várias vezes, embora cada vez que ela
olhasse para ele, ele desviasse o olhar. As suas colegas já lhe tinham
comentado que talvez ele gostasse dela.
- Está atrasado para algum
evento? - perguntou Inês.
- Hummmm… Nem sei bem, para lhe
ser sincero. – respondeu Artur visivelmente atrapalhado e balbuciando as
palavras visto estar dominado pela ansiedade do momento.
- Ahah – riu Inês – então não
sabe para onde vai?
- Desculpe. Não sei porquê mas
estou super nervoso. E quando fico nervoso fico atrapalhado e não sei que
dizer!
- Mas está nervoso porquê?
Sente-se bem? – pergunta de forma maliciosa Inês, que se começava a divertir
com a situação, já imaginando o porquê daquele homem se sentir naquele estado.
- Estou nervoso… porque… bem…
acho que estou atrapalhado por estar aqui consigo – diz Artur completamente
corado e quase a morrer de vergonha por a situação lhe estar a fugir
completamente ao controlo e não ser nada, mas nada do que tinha planeado.
- Ahaha! – exclama novamente Inês
– uma coisa é certa! A primeira vez que neste final de tarde estou a rir de
forma sincera é consigo.
- Bem… não sei se isso é bom ou
se é mau!
- Qual o seu nome? - pergunta Inês.
- Artur – responde, afastando com
a mão as gotas de suor que lhe caem na testa com situação tão incómoda para si.
- Você é engraçado Artur! Eu sou
a Inês. Gosto em conhecê-lo! – afirma Inês estendendo-lhe a mão para que ele
respondesse cumprimentando-a.
- Não lhe vou dizer que o gosto é
meu… mas obrigado por estar a ser verdadeiramente simpática – responde Artur,
agarrando suavemente na mão de Inês e cumprimentando-a.
- Eu já tinha reparado em si na
empresa – diz Inês.
- Hummm, ai sim?
- Sim. Já reparei que o Artur
olha muitas vezes para mim – acabando de dizer isso, o sorriso de Inês abre-se
instantaneamente.
O coração de Artur dispara
imediatamente. Como se de um sinal de alerta se tratasse. Que se estaria a
passar naquele elevador? Inês liderava o diálogo e acabava de disparar uma
pergunta onde mostrava claramente que sabia que Artur olhava para ela, e que
com isso sabia também que Artur provavelmente gostava dela. Mas será que Inês estaria
a mostrar que estava interessada em si?
- Inês, é difícil a qualquer
homem nesta empresa, ou noutro lugar qualquer, não reparar em si. Não acha?
- Ahahaha! Estou a ficar corada
Artur! Tinha-o como um homem tímido! E afinal até é capaz de dizer aquilo que
sente.
- Fui sincero consigo. Disse que
estava atrapalhado, e o meu coração ainda está aos pulos por estar neste
elevador apenas fechado consigo.
- Não é ocasião para tanto. Este
é apenas o nosso primeiro encontro – diz Inês voltando a abrir o seu sorriso.
E aquele sorriso arrebata Artur.
Ele está completamente apaixonado e sente o calor e o palpitar do seu coração.
Nunca, na sua vida, se sentira tão atraído por uma mulher como desta vez. A sua
paixão fora instantânea assim que vira Inês entrar no primeiro dia naquele
escritório. Ele tinha pouca experiência com mulheres. Sempre fora um homem mais
dedicado ao trabalho que aos amores. Tivera uma namorada durante muitos anos e
quando ela o deixou, ficou completamente destroçado. Artur era um homem tímido
e pouco confiante junto das mulheres. Não estava rotinado em abordá-las. Não
sabia como falar com elas nestas fases iniciais de conquista. Acima de tudo,
Artur achava que todas as mulheres, no fim, o iriam deixar tal como a sua
primeira namorada o havia feito. Dava-lhes pouca confiança, e só conseguia
envolver-se com mulheres quando eram estas a tomar a iniciativa. E mesmo que
daí resultasse algum envolvimento, era sempre por pouco tempo. Mas no caso de
Inês, Artur decidira investir. Já a observava há quatro semanas, e algo lhe
dizia que ela valia o esforço. Que esta seria diferente. E ali estavam os dois.
No elevador, finalmente a conversarem. Até que o elevador chega ao seu destino.
- Bem, parece-me que chegámos. –
suspira Artur.
- Sente-se aliviado?
- Porque pergunta Inês?
- Porque agora já pode respirar
novamente. Não precisa de continuar atrapalhado com a minha presença.
- Inês peço desculpa – diz Artur
já segurando a porta do elevador, deixando Inês passar à sua frente. – Não
estou habituado a falar com mulheres.
- Não está? - pergunta Inês abrindo os olhos em direção a
Artur, visivelmente curiosa ou mesmo surpreendida com a afirmação aparentemente
honesta do seu colega.
- Não Inês. – diz Artur coçando a
nuca – Apenas tive uma namorada, e durante muitos anos, mas há três anos que
estou sozinho. Acho que não tenho aquele toque que as mulheres gostam e
desculpe se a incomodei no elevador.
- Artur… nem sei que lhe dizer –
diz Inês agora incomodada, por perceber que Artur estava triste ou ferido com a
honestidade que agora partilhava com ela.
- Não diga nada Inês – diz Artur
esboçando um sorriso falso. – só lamento se de facto a incomodei no elevador.
Não devia ter dito aquilo assim que entrei.
- Artur, ok, já percebi que vai
insistir nesse discurso. Fazemos assim: amanhã quer jantar comigo e compensar a
sua honestidade de hoje?
- Como assim? Está a falar a
sério? – pergunta Artur com o rosto completamente iluminado talvez suportado
pela alegria do convite inesperado.
- Estou Artur. Acho que você é um
tipo engraçado, pelo menos foi sincero. Hoje não posso jantar, mas amanhã
gostava que me fizesse companhia. – insiste Inês - Se quiser claro.
- Claro Inês. Com muito gosto!
- Então até amanhã! – diz Inês,
colocando a mão no peito de Artur e despedindo-se com um beijo junto ao maxilar
inferior de Artur. - Amanhã falamos de manhã no escritório e combinamos. Talvez
possamos tomar o pequeno-almoço.
- Ok Inês… - diz Artur
visivelmente nervoso e aparentemente incrédulo com tamanho convite, sentindo
que estava à beira de ganhar o jackpot de uma lotaria qualquer.
Inês vira-se na direção da porta
do edifício deixando Artur para trás e começa a caminhar. Que visão
absolutamente magnífica! Inês não parecia que andava, parecia sim que deslizava
no ar, como se fosse uma entidade celeste, suportada pelas pernas mais
elegantes do mundo. A imagem de sensualidade transbordava por todos os
centímetros quadrados da sua pele. E uma das mulheres mais perfeitas do planeta
acabara de deitar abaixo o mundo de Artur. Iriam jantar no dia seguinte! Artur
nem acreditava. Está imensamente contente e quer celebrar. Pega no seu
telefone. Ele sabe a quem ligar. Agora quer ligar ao seu melhor amigo
Francisco. Talvez uma cerveja ao jantar seja o momento ideal para partilhar o
grande acontecimento deste dia!
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